Como evitar acidentes com marquises
Marquise que desabou na Rua Bela Cintra e matou um jovem no dia 13 de novembro (Reprodução TV Globo/Divulgação)
O desabamento da marquise de um prédio nos Jardins, Zona Oeste da capital, no último dia 13 de novembro, culminou na morte de um jovem de 17 anos e gerou
questionamentos sobre como a manutenção da estrutura deve ocorrer. A reportagem da
Vejinha procurou especialistas no tema para entender como a sustentação funciona e quais sinais podem anteceder o seu colapso.
“As marquises, assim como varandas e sacadas, principalmente as que ficam para fora do edifício, estão presas na estrutura principal do prédio, mas são elementos independentes. O que segura essas peças que estão em balanço [penduradas] são as armaduras [estruturas de ferro]”, diz Paulo Heleno, professor de patologia das estruturas de concreto da Poli-USP.
Ele explica também que esse tipo de construção exposta a intempéries precisa ser impermeabilizada para evitar infiltrações e que a vida útil desse serviço é bem menor do que a da estrutura em si. “Dura de 5 a 10 anos no máximo. Um banheiro, que fica na parte interna, tem durabilidade maior”, afirma.
O problema começa justamente quando, ao colocar uma nova camada de impermeabilizante, não se retira a antiga. Com isso, o peso que a estrutura tem que suportar vai ficando cada vez maior. “Por comodidade de preço, de rapidez, coloca-se uma camada nova sobrepondo as mais antigas”, explica Heleno. Ainda na seara do peso excessivo, há outros suspeitos.
“Acúmulo de água nas marquises pode se tornar uma sobrecarga, aparelho de ar condicionado erradamente instalado ali também”, relata Joni Matos Incheglu, professor de engenharia civil na Universidade de Mogi das Cruzes e Conselheiro no Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia).
O excesso de peso não é o único fator de risco. Existe também uma deformação natural gerada pelo envelhecimento da estrutura, chamado de “fluência” pelos especialistas. A armadura vai perdendo suas forças. Comparando com o ser humano, fica corcunda, mais fraco. Somadas, essas pioras estruturais fragilizam a construção e abrem espaço para problemas, como as fissuras.
Essa fissura, quando ocorre junto ao apoio da estrutura principal com a que está em balanço, provoca corrosão da armadura. “Água corrói essa armadura. É como se uma faca fosse cortando as barras. As estruturas de concreto são projetadas para avisar quando não estão saudáveis. Essas, tipo marquise, são ingratas, quando você nota elas já caíram. Só dão sinais para profissionais com experiência adequada”, resume Heleno.
São Paulo, diferentemente de outras cidades no Brasil e no mundo, não possui legislação que obrigue proprietários de prédios a realizar manutenções periódicas nesses locais. “Precisamos de leis que obriguem os proprietários a realizar essas inspeções periódicas. Aqui em São Paulo não temos, então fica ligado ao bom senso do responsável pelo prédio. Em outras cidades, é regra que elas ocorram de dois em dois anos”, conta Incheglu.
Mas o que fazer para evitar este tipo de acidente?
1. Antes de qualquer início de serviço de reforma, precisa haver inspeção, ensaios e diagnóstico. Com esse diagnóstico, deve ser feito um projeto de intervenção corretiva, ou seja, não se deve iniciar um trabalho importante numa estrutura sem antes saber o que fazer ou sem ter o projeto da intervenção corretiva;
2. A cada dois anos se faz uma inspeção rotineira, visual, rápida e relativamente barata. Detectados os indícios ou suspeitas de problema grave, aí sim deve-se contratar um especialista para inspecionar e ensaiar. Não se deve fazer uma reforma grande sem antes ter resultados de ensaios que comprovem a necessidade da intervenção.
3. A intervenção corretiva é o momento de maior risco, vide o exemplo de Fortaleza, onde prédio desabou. Lá começaram errado intervindo em todos os pilares ao mesmo tempo, e sem um projeto, ou seja, sem saber o que fazer. Depois de pronta, a obra em geral é mais segura que originalmente, mas durante os serviços é preciso muito cuidado, pois é o momento crítico. Como numa cirurgia, durante o procedimento é o maior risco de perder a vida;
4. Ao encomendar uma nova impermeabilização, é preciso estar atento ao serviço. É preciso retirar a camada antiga antes de se colocar uma nova, para evitar que a estrutura tenha que suportar mais peso do que o que foi projetada para suportar;
5. Procurar profissionais com experiência nas áreas estrutural e de inspeção;
6. Peça sempre a anotação de responsabilidade técnica (ART) ao engenheiro. O documento, que serve para registrar as intervenções do profissional no imóvel, é elemento de rastreabilidade em caso de problemas.