Mobilidade urbana: a namoradinha do Brasil
As novelas, em seus áureos tempos, criaram a figura da namoradinha do Brasil, uma atriz que, por sua beleza, simpatia e sedução, além, claro, de seu talento, conquistava platonicamente milhões de corações. Tirando essa ideia do campo dramatúrgico e a trazendo para o meio político, é o que acontece agora com o tema mobilidade urbana. Ele se difundiu e se popularizou, por todo o País, de uma maneira irresistível.
Nos papos de esquina, nas conversas de bar, nas casas políticas e até mesmo nas promessas de campanha, o assunto é discutido com mais ou menos profundidade, com maior ou menor conhecimento. Se tornou agradável falar em mobilidade urbana, logo poderá ser até cult.
Porém, se há um lado positivo nessa fama, há outro preocupante. Se neste momento em que o tema está na moda os avanços práticos e reais na área são lentos e pequenos, qual o futuro desta causa quando essa onda passar?
Faz-se prioridade tratar com maior seriedade e vontade esta matéria. Ela não pode durar apenas alguns capítulos. Tem que ser incorporada à vida real de uma maneira irreversível. Priorizar o pedestre e o transporte público. Incentivar e dar infraestrutura para o uso de transportes não motorizados, como, por exemplo, a bicicleta, o skate e o roller. Restringir o acesso de automóveis em áreas urbanas centrais. Realizar campanhas, eventos e promoções que conscientizem e instiguem crianças, jovens, adultos e idosos a ter uma vida mais saudável e um trânsito mais limpo e leve.
Boas ideias não faltam. O que faltam são ações efetivas que produzam resultados permanentes. Precisamos pedir a namoradinha em casamento.
Vinicius Ribeiro
Arquiteto e urbanista, presidente da Corag